O blog Conceitos Táticos, como o próprio nome entrega, visa abordar os conceitos táticos no mundo do futebol. Meu objetivo é analisar, provocar, fazer pensar, discutir e tirar dúvidas sobre o assunto. Estou sempre aberto a opiniões, sugestões, críticas, perguntas, discordâncias e etc.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

A seleção de 70 e as semelhanças com a atual

        A seleção de 1970 é exaltada por muitos como a melhor seleção que o Brasil já teve. Realmente, contava com nomes como Pelé, Tostão, Rivellino, Gerson e outros, encaixados e bem treinados. O interessante é que essa é daquelas “verdades absolutas” repetidas por gente mais nova que nunca viu mais que dois ou três lances daquela Copa e de gente mais velha que tem apenas esses alguns lances na memória. Estimulado por um post do André Rocha (colunista da ESPN), fui atrás de analisar a forma de jogar dessa seleção e constatei: há muitas semelhanças com o que Mano Menezes tem tentado aplicar na seleção atual.
        Aquela seleção contava com três excelentes pontas-de-lança, e para encaixá-los Zagallo fez algumas adaptações: Rivellino foi jogar de ponta esquerda e Tostão ficou no que vou chamar de referência móvel.
        Este era apenas o desenho tático inicial, já que a grande movimentação e troca de posições entre os atletas tornava a equipe extremamente dinâmica e imprevisível. Tostão muitas vezes abria pela esquerda ou recuava para armar a jogada, abrindo espaço para as infiltrações de Pelé, Jairzinho e às vezes de Rivellino e até Carlos Alberto Torres e Clodoaldo. Aliada à intensa movimentação e infiltrações, uma arma muito efetiva eram os lançamentos de Gerson (arma que não é utilizada na seleção atual, cuja dupla de volantes é composta por carregadores de bola, que têm o costume de aparecer no ataque, mas não de realizar lançamentos). 

Na formação inicial: Tostão na referência fazendo o pivô para Rivellino na esquerda.

Tostão abrindo para a esquerda, gerando espaço para a infiltração do volante Clodoaldo.

Tostão recuando, abrindo espaço para a infiltração de Jairzinho.

Jairzinho (7), o ponta-direita, por vezes abria pela esquerda, abrindo um buraco no lado oposto. Detalhe: este lance é contra o Uruguai, mostrando como a movimentação não foi exclusiva e por acaso no gol do Carlos Alberto Torres contra a Itália. 

Arma mortal, que a seleção atual não conta: os lançamentos de Gerson.

Jairzinho se projetava no meio da área como autêntico centroavante. Não é a toa que ele foi o artilheiro da Copa, tendo feito gols em todos os jogos.
        Há pouco tempo realizei um post aqui no blog analisando as variações táticas experimentadas pelo Mano. Em todas elas, ele contava com um autêntico centroavante. Nos últimos amistosos, com a entrada de Kaka no lugar de Leandro Damião, Mano mudou a forma de jogar da equipe, deixando Hulk, Oscar e Kaka como trio de meias atrás de Neymar, que fazia a referência móvel.
        De maneira muito semelhante à de Tostão em 70, Neymar é a referência, mas não fica centralizado. Abre pelos lados (principalmente pela esquerda) ou recua, abrindo espaços para a ultrapassagem dos meias e dos volantes.
        A grande diferença, como dito acima, é a característica da dupla de volantes. Se Clodoaldo de certa forma se assemelha aos dois atuais, Gerson tinha uma forma de jogar bem diferente, cadenciando mais o jogo e realizando passes e lançamentos primorosos. 

Momento de marcação da seleção brasileira atual: praticamente um 4-2-4.

Neymar recuando para armar a jogada e abrir espaço para a infiltração dos meias.

Neymar abrindo pela esquerda para armar a jogada, abrindo espaço para a infiltração dos meias. Compare essas duas últimas fotos com a movimentação do Tostão. Mera coincidência?
        Não sei dizer se Mano Menezes estudou a seleção de 1970 e realmente se inspirou nela, mas as semelhanças estão aí. Talvez o caminho seja um pouco mais longo: Mano já afirmou se inspirar em Pep Guardiola, que disse ter aprendido muito com as seleções brasileiras de 1970 e dos anos 80.

2 comentários:

  1. Boa Pedro, queria saber se havia alguma diferença entre aquela seleção e essa, no sistema como um todo e se sem a bola o comportamento seria o mesmo. Ou será que esse tipo de análise vale um outro post?
    Abraços
    Fernando (Bocão)

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  2. Então, os amistosos com o Kaka e sem primeiro volante foram contra seleções mais fracas. Precisamos esperar para ver o que Mano pensa em fazer contra as seleções mais fortes. Mas nesses jogos, o Brasil ensaiou uma pressão média-alta (como a da figura) para alta, enquanto a seleção de 70 recuava todas as linhas atrás do meio de campo, muitas vezes deixando apenas Tostão no campo ofensivo. A grande semelhança é a aposta na transição rápida, justamente com a referência móvel abrindo espaços para a infiltração/ultrapassagem (sempre em velocidade) de quem vem de trás.

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