O blog Conceitos Táticos, como o próprio nome entrega, visa abordar os conceitos táticos no mundo do futebol. Meu objetivo é analisar, provocar, fazer pensar, discutir e tirar dúvidas sobre o assunto. Estou sempre aberto a opiniões, sugestões, críticas, perguntas, discordâncias e etc.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Lições do Basquete: O Sistema de Triângulos

            Quem vive um pouco no mundo do esporte não precisa ser grande fã de basquete para ao menos ter ouvido falar do Chicago Bulls do Michael Jordan ou do L.A Lakers do Kobe Bryant e Shaquille O´Neal. Em comum entre essas equipes o treinador: Phill Jackson. Muitos dizem que é fácil ser campeão tendo os atletas que tinha em mãos, porém Jackson teve o mérito de implementar um conceito de jogo que potencializa as virtudes de seus atletas: o Sistema de Triângulos (ST).


Phill Jackson com Kobe Bryant e com Michael Jordan: grande sucesso na utilização do Sistema de Triângulos




               A abordagem do presente texto irá focar nos parâmetros conceituais que geram o ST, deixando de lado sua aplicação mais prática, pois além de ser mais complexa é até certo ponto específica do basquete e necessita de algumas adaptações para ser utilizada no futebol.
            O ST se baseia em alguns princípios, os quais devem ser entendidos e efetuados por todos os atletas da equipe. São eles:
           
            *Evitar o drible: o drible excessivo atrasa a equipe e facilita a recomposição do adversário. O drible pode ser efetuado e deve ser estimulado, desde que seja com um objetivo bem definido. O ideal é que a equipe toque a bola até encontrar uma situação de 1x1 sem cobertura, quando o drible torna-se uma arma útil.

            *Passar a bola para o jogador mais livre: na teoria parece simples, porém na prática isso depende da participação de todos os atletas em campo. A equipe não procura a todo momento o craque do time, nem exclui nenhum jogador de suas ações ofensivas. Isso obriga a defesa adversária a segmentar sua atenção a todos os atacantes, dificultando assim as dobras de marcação e as coberturas.

            *Ao receber, olhar para o gol: sempre que o atleta tem a bola, ele deve representar uma ameaça ao adversário, então deve estar sempre de frente ao gol. Quando recebe a bola de costas ou de lado para o gol, o atleta representa menos perigo, facilitando assim a marcação do adversário.

            *Jogar sem bola: fundamental para o sucesso do ST: o atleta que tem a bola deve ter o maior número de opções de jogadas, para assim tomar a melhor decisão e também dificultar a marcação adversária. Para que isso seja possível, todos os atletas sem bola devem se movimentar e se posicionar em condições de receber a bola, dando opções e também abrindo espaços. É importante que o espaço entre os jogadores mais ofensivos seja relativamente grande, o que aumenta a área operacional para o jogador que tem a bola (permite infiltrações e aproveitamento de espaços vazios).
           
            *Ler a defesa e jogar com ela: detalhe importante para o jogar com ela ao invés de contra ela, ou seja, os atacantes devem usar as ações defensivas realizadas pelo adversário como uma arma para suas próprias ações. Por exemplo: se o marcador mais alto está marcando o centroavante e pronto para cortar cruzamentos, o centroavante pode sair da área para receber a bola ou abrir espaço para a infiltração de outro atacante. Qualquer que seja a ação, os atletas devem estar atentos às ações e movimentações não só de seus companheiros como também de seus adversários, podendo com isso escolher a ação que melhor funciona contra aquele adversário naquele momento.
           
            *Criatividade e intuição: dei-me a liberdade de colocar este princípio em último, pois ao meu entender, ele engloba de certa forma todos os outros citados anteriormente. Reparem que nenhum princípio propõe ações pré-determinadas; muito pelo contrário, sugere que todos os atletas da equipe estejam sempre atentos ao que acontece ao seu redor (companheiros, adversários, bola, espaços) para, utilizando-se da criatividade e da intuição, tomar a melhor decisão. Importantíssimo diferenciar criatividade e intuição de improviso (“jeitinho”). O objetivo maior é estruturar e potencializar a utilização da criatividade do atleta em prol do time, sem prendê-lo demais e também sem deixá-lo fazer o que bem entender.

            Para que a execução do ST seja bem-feita, é necessária a participação efetiva de todos os atletas em campo, ou seja, todos devem entender os princípios que norteiam o ST e estarem dispostos a sacrificar o individual pelo coletivo, além de ter pleno domínio dos fundamentos técnicos.
            O ST é chamado também de ataque dos três pivôs, pois a idéia é que todos os atletas componentes do triângulo ofensivo passem em algum momento pela posição do pivô (troca constante de posição, variabilidade de opções e ações ofensivas).
            O grande problema do ST é que, por ser algo diferente, enfrentaria grande resistência por parte dos atletas e de dirigentes despreparados, mais preocupados com resultados imediatos que com o desenvolvimento a longo prazo. Cabe ao treinador convencer sobre a efetividade dessa metodologia, e cabe principalmente aos clubes profissionalizar sua gestão. Infelizmente estamos léguas atrás de europeus e até mesmo de alguns “hermanos” do ponto de vista da gestão dos clubes.
         Gostaria de agradecer ao Prof. Dr. Alexandre Moreira (professor de Basquete na Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo) por gentilmente me fornecer o material base deste post.

Fonte: Marcel de Souza (técnico de Basquete)- Comentários Sobre o Sistema de Triângulos.