O blog Conceitos Táticos, como o próprio nome entrega, visa abordar os conceitos táticos no mundo do futebol. Meu objetivo é analisar, provocar, fazer pensar, discutir e tirar dúvidas sobre o assunto. Estou sempre aberto a opiniões, sugestões, críticas, perguntas, discordâncias e etc.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

A seleção de 2002 e as possibilidades para 2014: um exercício de imaginação

             Felipão reassumiu a seleção. 11 anos depois da conquista do penta, novamente no meio do caminho e novamente com a “missão de resgatar o futebol brasileiro”. Já defendi aqui que o trabalho de Mano seguia um bom caminho, porém, quando realmente começava a engrenar foi interrompido por motivos puramente políticos. E agora, quais serão as mudanças no trabalho realizado por Felipão? O que está sendo feito aqui é um exercício puramente de imaginação levando-se em conta principalmente a seleção que conquistou o penta 11 anos atrás. 
Novo técnico da Seleção: como será seu trabalho?
             Com o intuito de dar maior liberdade para os laterais, excelentes no apoio, Felipão escalou um volante/zagueiro (Edmilson) cujo comportamento dependia do comportamento adversário: se jogavam com um atacante, Edmilson ficava ao lado de Gilberto Silva; se jogavam com dois atacantes, Edmilson compunha a linha defensiva, deixando Lúcio sempre na sobra. Além de Edmilson, Gilberto Silva atuava como primeiro volante, bem recuado, muito raramente se projetando ao ataque com a clara função de proteger a defesa.
           Fazendo a ligação entre defesa e ataque, além dos laterais, tínhamos Kleberson, na época em excelente forma física. Ele atuava ora próximo de Gilberto Silva ora na linha dos meias.

Kleberson fazendo a ligação entre defesa e ataque: excelente preparo físico.
             Na frente tínhamos Ronaldinho e Rivaldo se alternando na armação e Ronaldo na referência, sempre contando com os apoios de Kleberson e dos laterais. As jogadas normalmente eram verticais, com muitos passes em profundidade e ultrapassagens. Respeitando as características do centroavante (Ronaldo), não havia chuveirinhos, como costuma ocorrer em equipes comandadas pelo Felipão.

Um resumo das ações ofensivas: Ronaldinho e Rivaldo se alternando na armação, Ronaldo na referência  e apoio constante dos laterais (no caso, Cafu).
              Atualmente nossos laterais novamente estão entre os melhores do mundo, e novamente tendo como grande triunfo a qualidade no apoio: Daniel Alves e Marcelo. Com isso, é capaz que Felipão repita a estratégia de escalar volantes que façam a cobertura e dêem liberdade aos laterais. David Luiz é um zagueiro de grande qualidade técnica e costume de subir ao ataque com a bola dominada, além de ter sido recentemente testado (e ido bem) no Chelsea na posição de volante. Pode realizar a função de Edmilson na copa de 2002. Na cabeça de área, Felipão deve escalar um “cão de guarda”, um volante puramente marcador que raramente ultrapassa a linha do meio. Dentre as opções temos: Felipe Melo, Sandro, Ralf, Lucas Leiva...
              Na função de realizar a transição defesa ataque temos hoje dois jogadores com características semelhantes a de Kleberson: Paulinho e Ramires devem brigar por uma vaga. Lembrando que Juninho Paulista, uma meia mais ofensivo, iniciou a copa nessa função, Oscar pode estar correndo por fora.
            Felipão já manifestou que deve contar com a experiência de alguns jogadores, logo, Ronaldinho é fortíssimo candidato a retomar o posto como articulador principal (ocupado por Rivaldo em 2002), tendo Neymar ao seu lado, revezando-se entre armação e ataque. Na frente não temos mais Ronaldo Fenômeno, mas Felipão não abre mão de uma referência, um centroavante finalizador. Deve entrar Fred, artilheiro do campeonato brasileiro (Luis Fabiano e Leandro Damião correm por fora).
            No gol não temos hoje nenhuma unanimidade. Se optar pela experiência, pode contar com Julio César, em franca decadência. Pela fase atual os candidatos mais fortes são Diego Cavallieri (melhor goleiro do campeonato brasileiro) e Cássio (campeão da Libertadores e do Mundial de Clubes com defesas decisivas, porém ainda pouco experiente). 

Disposição tática da seleção de 2002.

Possíveis escolhas de Felipão para 2014, se mantiver desenho e conceitos aplicados 11 anos atrás.
          Felipão conta com boa qualidade individual, tanto no sistema defensivo quanto no ofensivo. Jogadores criativos que podem dar uma boa resposta. Porém, um problema recorrente em seus trabalhos merece atenção: a falta de compactação do time, principalmente nas ações ofensivas. A defesa fica muito recuada e os laterais não fecham pelo meio. Se David Luiz estiver compondo a última linha, o outro volante ficará praticamente sozinho cuidando de toda a intermediária defensiva. Enfrentar equipes que gostam de circular a bola no campo ofensivo pode gerar grandes problemas no sistema defensivo, parecido com o que o Santos sofreu contra o Barcelona no Mundial de 2011. Espanha e Alemanha são potenciais rivais de alto risco para o Brasil.

Falta de compactação: zagueiros muito recuados e laterais não fecham pelo meio. Reparem no espaço livre na intermediária defensiva, com Kleberson ainda retornando e Roberto Carlos nem aparece na foto. Um risco contra seleções que gostam de rodar a bola.