O blog Conceitos Táticos, como o próprio nome entrega, visa abordar os conceitos táticos no mundo do futebol. Meu objetivo é analisar, provocar, fazer pensar, discutir e tirar dúvidas sobre o assunto. Estou sempre aberto a opiniões, sugestões, críticas, perguntas, discordâncias e etc.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Transição em Bloco e as Dificuldades Ofensivas de Alguns Times Brasileiros

A copa d Mundo recém- finalizada teve uma média de 2,67 gols por partida, contra uma média de 2,15 do campeonato brasileiro até o momento. Dentre os fatores, além de goleadas inesperadas e maior qualidade dos atletas na Copa do Mundo, entra também entra também o plano coletivo: no futebol brasileiro, ainda depende-se muito da qualidade individual de seus atletas e jogadas de bola parada, sendo que em muitos momentos as equipes atacam com poucos jogadores, gerando situações de inferioridade numérica ofensiva.

O placar marca 4x0 e a Alemanha segue atacando em bloco: no caso, 5 contra 3, sendo 3 deles se projetando na última linha defensiva em direção ao gol.

Líder e dono do melhor ataque, o Cruzeiro foge à regra: roubada de bola e transição em velocidade com participação de todos os atletas da linha ofensiva e apoio de volantes e laterais. Frequentemente chega à área adversária com quatro ou cinco atletas, todos se projetando em direção ao gol. Com isso sendo feito de forma bem treinada e coordenada, todos esses quatro ou cinco atletas podem ter a chance de finalizar em boa condição (de frente para o gol e equilibrado). Não à toa, o artilheiro do time é Ricardo Goulart, meia, e não o centroavante Marcelo Moreno.

Repare na linguagem corporal dos atletas do Cruzeiro: todos se projetando em direção ao gol, aumentando o leque de possibilidades de Everton Ribeiro, que tem a bola.

Bola é alçada na área e temos quatro jogadores do Cruzeiro indo na sua direção. Novamente, atenção na linguagem corporal: todos querem fazer o gol.

Com apenas 10 gols marcados em 13 partidas e enfrentando dificuldades para vencer até as partidas que domina, o Palmeiras tem dificuldades principalmente nesse aspecto: além de ser uma equipe tecnicamente fraca, em muitos momentos ataca com poucos jogadores, sem apoios, e isso limita as chances de finalizar em boa situação. Ás vezes o cruzamento atravessa a área,  e se o único atacante na área não alcança a bola, não tem mais ninguém para pegar uma possível sobra. Além disso, em situação de inferioridade numérica, mesmo quando o atacante consegue finalizar, ele não o faz em plenas condições (finaliza desequilibrado ou sem ângulo).

Dois atacantes contra quatro defensores, sendo que nenhum dos dois atletas presentes na foto se projeta para ajudá-los: vai ter ter que ser na qualidade individual.

Novamente em inferioridade numérica: dois atacantes contra cinco defensores, e ninguém mais sequer aparece na foto.

Dono de um dos melhores ataques da competição, porém com grandes dificuldades para definir as partidas, o São Paulo tem alto índice de posse de bola e acerto de passes, e o consenso geral é que falta objetividade ao time. Para que isso seja possível, deve haver progressão: a bola deve ir em direção ao gol, e os atletas idem, em bloco. Assim como o Palmeiras, em muitos momentos o São Paulo ataca com dois ou três jogadores e o resto do time “desinteressado” no jogo.

Situação dois contra três, prestes a se tornar dois contra cinco: três outros jogadores do São Paulo aparecem na fotos, porém todos "desinteressados" no jogo.

Situação corriqueira no São Paulo: passe lateral, apenas um jogador se projetando e os demais de costas para o gol. Posse de bola inócua.

Se uma transição ofensiva é feita de forma rápida, coordenada e em bloco (com vários jogadores se projetando em direção ao gol), aumenta o número de possibilidades ofensivas da equipe, aumentando a chance do time fazer gol e também ampliando o número de preocupações para a equipe adversária, dificultando assim também a organização do setor defensivo.


Vimos Felipão durante a Copa do Mundo falando em “cobrar maior movimentação” e Muricy agora falando em “cobrar maior número de finalizações”. A cobrança é de suma importância, mas é fundamental principalmente que os técnicos saibam aplicar nos treinos situações direcionando para que os atletas realizem seus objetivos, o que nem sempre ocorre.