O blog Conceitos Táticos, como o próprio nome entrega, visa abordar os conceitos táticos no mundo do futebol. Meu objetivo é analisar, provocar, fazer pensar, discutir e tirar dúvidas sobre o assunto. Estou sempre aberto a opiniões, sugestões, críticas, perguntas, discordâncias e etc.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

As Variações Táticas do Palmeiras na Série B

O Palmeiras vem cumprindo sua obrigação e garantindo seu acesso para o ano do centenário sem grandes sobressaltos, liderando praticamente o campeonato inteiro. Para atingir seus objetivos, Gilson Kleina tem variado o desenho tático da equipe de acordo com desfalques e situações de jogo.

Ele tem se apoiado em basicamente três desenhos táticos, que, no comportamento defensivo, reduzem-se a dois. Ora ele utiliza três volantes, tendo um meia armador e dois atacantes, ora ele utiliza dois volantes, tendo dois meias armadores e dois atacantes ou um meia armador e três atacantes. Importante ressaltar que o comportamento do time não altera devido ao número de volantes escalados, ou seja, não fica mais defensivo ou mais ofensivo, como muita gente gosta de pensar.

O Palmeiras vem garantindo tranquilamente o acesso para a série A no ano do centenário.
Quando utiliza três volantes, Marcio Araujo fica mais preso na frente dos zagueiros, enquanto Wesley e Charles têm mais liberdade para chegar á frente, com arrancadas, infiltrações por dentro, passes e finalizações. Valdívia fica solto para armar o time, Leandro e Alan Kardec jogam por dentro, enquanto os laterais Luis Felipe e Juninho são os responsáveis por dar amplitude e profundidade* ao time.  Em alguns momentos, Wesley (principalmente pela esquerda), Valdívia e Leandro (pelos dois lados), também se aproximam da linha lateral, dando amplitude ao time e fazendo parceria com Juninho e Luis Felipe. Charles joga mas centralizado. Alan Kardec é a referência, mas não se limita a ficar parado dentro da área. Ele recua por dentro, procurando fazer a parede e muitas vezes achar passes em profundidade para os companheiros.

Comportamento ofensivo com 3 volantes: Valdívia solto, Wesley e Charles fazendo infiltrações por dentro e Luis Felipe e Juninho responsáveis pela amplitude e profundidade da equipe.
Defensivamente, os três volantes marcam por dentro, enquanto Leandro e Alan Kardec procuram bloquear a saída de bola pelas laterais. Valdívia fica mais solto na frente. Pressiona o primeiro passe do volante adversário, mas assim que é batido não se preocupa com o retorno, descansando para efetuar as ações ofensivas.

Sem a bola, os volantes marcam por dentro, Leandro e Kardec bloqueiam a saída pelas laterais e Valdívia dá combate no primeiro passe, descansando depois que é batido.
Quando entra com dois volantes, Gilson Kleina coloca Mandieta para armar ao lado de Valdívia ou um terceiro atacante (normalmente Vinícius).  Quando joga Mandieta, ele atua aberto pela direita, mas centralizando para aproveitar os espaços deixados pela marcação, mais preocupada com Valdívia, e armar o time.  Leandro parte da esquerda para a área, fazendo dupla com Kardec, Wesley sobe mais esporadicamente que quando tem Charles ao seu lado, e os laterais seguem sendo a principal fonte de amplitude e profundidade do time.

Com Mandieta em campo: com a bola, ele centraliza para armar no espaço deixado pela marcação, mais preocupada com Valdívia, e Leandro forma dupla com Kardec no ataque. Sem a bola, Mandieta e Leandro bloqueiam a saída pela lateral, enquanto Kardec e Valdívia dão o primeiro combate pelo meio.
Quando usa três atacantes, Valdívia novamente se isola na armação. Pela direita, Leandro procura a diagonal, fazendo dupla com Kardec e abrindo o corredor lateral para Luis Felipe. Pela esquerda, Vinicius procura o fundo, sendo a principal opção de profundidade.  O time descentraliza um pouco suas ações ofensivas, procurando parcerias pelos lados (Leandro-Valdívia-Luis Felipe ou Vinícius-Wesley-Juninho) ou armando o jogo por dentro (Valdívia-Wesley-Kardec).

Os atacantes pelos lados garantem maior amplitude e profundidade sem depender tanto dos laterais, que continuam subindo bastante, dessa vez para formar parcerias com o atacante do seu lado e um dos meias.
Defensivamente, Leandro e Vinícius (ou Mandieta) recompõem pelos lados, e Valdívia e, principalmente, Kardec combatem a saída de bola pelo meio. Por vezes, Kardec recompõe por um dos lados, cobrindo um dos atacantes, dando tempo para que ele recupere o fôlego após alguma ação ofensiva.

Quando está vencendo e sendo pressionado, normalmente Gilson Kleina coloca Eguren em campo, formando duas linhas de quatro bem próximas, com o intuito de segurar o resultado e garantir a vitória.

Quando está ganhando e sendo pressionado, Eguren entra para jogar ao lado de Marcio Araujo. Uma linha de quatro é formada na frente da defesa, enquanto no ataque normalmente entra Serginho ou Ananias para re-oxigenar a busca pelo contra-ataque definitivo.
A equipe do Palmeiras é agressiva e vertical, porém por vezes peca em não saber segurar a bola e fazê-la girar. Quando consegue virar o jogo, a jogada termina do outro lado. Raramente a bola sai de um lado para outro e depois volta no mesmo lance. Isso seria fundamental principalmente contra defesas mais fechadas (o que acontece em praticamente todas as partidas da série B). Essa falta de paciência com a bola tem reflexo também no sistema defensivo: ao perder em demasia a bola, a equipe expõe a última linha defensiva, que apresenta falhas de posicionamento e cobertura que uma equipe de primeiro nível não pode cometer, e isso passa mais por treino e ações do treinador que por falhas individuais propriamente ditas. O Palmeiras tem boa produção ofensiva, porém sofre mais gols e mais derrotas que o aceitável para o nível do campeonato disputado.

O elenco atual está dando para o gasto para a disputa da série B, porém, se quiser sonhar com algo no ano do centenário é de fundamental importância que consiga reforços pontuais, que cheguem para ser titular. A manutenção do elenco (inclusive Kardec), com dois ou três atletas que cheguem para vestir a camisa e sair jogando, a meu ver, bastam para formar uma equipe competitiva, além da troca do comando técnico. Eu, pessoalmente, iria atrás de Mano Menezes, Zé Roberto (encostado no Grêmio), Marcelo Nicácio (excelente atacante do Atlético-PR), Elias (do Flamengo) e procuraria alguém capaz de assumir a lateral esquerda.

*Amplitude: distância entre uma lateral ou outra- jogar em amplitude = “abrir o jogo”.

Profundidade: Distância entre uma linha de fundo e outra- jogar em profundidade = buscar a linha de fundo.