O blog Conceitos Táticos, como o próprio nome entrega, visa abordar os conceitos táticos no mundo do futebol. Meu objetivo é analisar, provocar, fazer pensar, discutir e tirar dúvidas sobre o assunto. Estou sempre aberto a opiniões, sugestões, críticas, perguntas, discordâncias e etc.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Gylmar; De Sordi... a Seleção Campeã do Mundo de 58

Os dois primeiros nomes da escalação da seleção campeã do mundo de 1958 (De Sordi foi titular durante toda a campanha, ficando de fora somente da final, por lesão, quando deu lugar a Djalma Santos) faleceram nesse último fim de semana.

Gylmar e De Sordi: integrantes da campanha do título mundial de 58
Quando pequeno, eu gostava de decorar as escalações dos times históricos do Palmeiras e da seleção brasileira. Sabia de cor o time da final de 58 e sempre via matérias ou lia reportagens a respeito do título. Sabia que Pelé e Garrincha viraram titular ao longo da copa, que Zagallo praticamente “inventou”  o 4-3-3,que Didi criou o “folha seca” e que os laterais pouco avançavam na época. Porém não sabia exatamente como jogava o time, coisa que hoje é possível graças ao Youtube. Vi a final entre Brasil e Suécia na integra.
A primeira linha defensiva era formada por Bellini e Orlando no comando da defesa e De Sordi (Djalma Santos na final) e Nilton Santos nas laterais. Quando muito, os laterais subiam até a intermediária ofensiva, de onde tocavam para o ponta ou um dos meias. Na época ainda não faziam ultrapassagens ou entravam na área.

Zagallo cobrando lateral próximo a linha de fundo: quando muito, os laterais subiam até a intermediária ofensiva.
A dupla de meias era Zito e Didi, ambos extremamente técnicos (principalmente o segundo, que tinha grande controle de bola). Marcavam um pouco atrás do círculo central e, com a bola, ocupavam simultaneamente a intermediária ofensiva (o que era possível graças os posicionamento conservador dos laterais), onde procuravam rodar a bola, enfiar para as ultrapassagens de Garrincha ou fazer tabelas com os atacantes.
Os pontas Garrincha e Zagallo tinham posturas e funções diferentes dentro de campo. Zagallo recuava e compunha o meio junto de Zito e Didi, ajudando na marcação e sendo o principal responsável pela saída de bola (não tive acesso aos dados estatísticos do jogo, mas acredito que Zagallo tenha sido o que mais tocou na bola). Grande parte das jogadas saía da esquerda, passava pelo meio e chegada aos pés de Garrincha na ponta oposta, onde ele ia para cima da marcação, procurando as jogadas agudas. Os dois primeiros gols da final, inclusive, saíram de cruzamentos seus para Vavá.

Zagallo (número 7) compondo o meio de campo ao lado de Didi: ajuda na marcação e principal responsável pela saída de bola da equipe.
Muito se diz que Pelé era o ponta de lança, enquanto Vavá era o centroavante da equipe, porém eles formavam uma dupla de ataque. Tinham poucas obrigações defensivas e, quando time tinha a bola, se revezavam entre buscar o jogo fora da área e entrar para finalizar. Fizeram dois gols cada na final, todos como autêntico centroavante.

Pelé e Vavá lado ao lado: sem muitas obrigações defensivas e revezando-se entre buscar a bola e finalizar a jogada.
É possível encontrar nesse jogo muitos aspectos conceituais semelhantes aos que vemos no futebol atual: volantes com bom controle de bola e bom passe, meias pelos lados com funções diferentes (um mais armador e outro mais incisivo), mobilidade (vista no revezamento e funções entre Pelé e Vavá)...

Os homens se vão, vencidos pela idade e pelas doenças, mas os heróis da primeira Copa conquistada pelo Brasil ficam para sempre guardados em memórias, histórias, matérias e vídeos.

Panorama geral da seleção de 58, com laterais sem buscar o fundo, Zagallo compondo o meio de campo, Garrincha mais incisivo e Pelé e Vavá alternando funçòes.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Os “Camisa 10” ainda existem

              Quando falamos do “autêntico” camisa 10, logo nos vem a imagem, meio utópica, do craque, aquele jogador de classe, que joga com a cabeça em pé, tem habilidade e boa qualidade técnica, organiza o time em campo com passes e palavras e ainda chama a responsabilidade para decidir partidas.

                Difícil achar um jogador que reúna tantas qualidades, mas nesse Campeonato Brasileiro fomos agraciados com quatro atletas que se encaixam no perfil do camisa 10, atletas os quais fazem valer a pena cada centavo gasto no ingresso (sem colocar aqui em discussão o valor dos ingressos- é só forma de expressão): Alex, do Coritiba, Seedorf, do Botafogo, Juninho Pernambucano, do Vasco , e Zé  Roberto, do Grêmio.

Alex, Seedorf, Juninho Pernambucano e Zé Roberto: craques com a bola nos pés, inteligência tática e líderes em sua equipe (detalhe para a faixa de capitão no braço dos quatro).

                  Os dois primeiros estão em maior evidência por se encontrar em equipe melhor organizada e em melhor fase. Vale a ressalva aqui que o craque é tão importante para o time quanto o time é para o craque, ou seja, em times mal organizados, dificilmente um jogador conseguirá desempenhar seu melhor papel.
                Em comum entre eles, além das qualidades citadas acima, a liberdade que têm em campo: pela inteligência tática e capacidade de leitura de jogo, não precisam de funções tão específicas, podem mudar posicionamento e funções de acordo com características do adversário e situação do jogo. São praticamente um segundo treinador em campo. É importante ressaltar que essa liberdade só é possível se o treinador tiver a cabeça aberta para ouvir as opiniões dos atletas e esses jogadores saibam respeitar o comando e deixar a palavra final com o técnico.
                Além da inteligência tática e do espírito de liderança, os quatro atletas citados são extremamente profissionais. Cuidam bem do corpo, não cometem excessos, permitindo que cheguem aos mais de 30 anos em excelente forma física.
                Nesse caso, as imagens valem muito mais que qualquer palavra, então seguem abaixo alguns vídeos ilustrando as qualidades dos atletas citados.