O blog Conceitos Táticos, como o próprio nome entrega, visa abordar os conceitos táticos no mundo do futebol. Meu objetivo é analisar, provocar, fazer pensar, discutir e tirar dúvidas sobre o assunto. Estou sempre aberto a opiniões, sugestões, críticas, perguntas, discordâncias e etc.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Sobre o uso de três zagueiros

            É muito comum vermos treinadores sendo acusados de “retranqueiros” ao utilizarem o esquema com três zagueiros em detrimento do mais tradicional 4-4-2. Vendo isso, sempre me deparei com uma pergunta matemática simples: se três é menor que quatro, como um esquema com 3 zagueiros é mais defensivo que um com 4?
            Para começar, vamos ver uma equipe que utiliza o 3-4-3 bem definido: a seleção chilena de Marcelo Bielsa nas eliminatórias e na Copa de 2010. Era uma seleção de muitos recursos ofensivos, porém fraca defensivamente. Jogava sempre no ataque, fazendo com que o time fizesse e levasse muitos gols. Reparem na seqüência de imagens como a linha defensiva é bem definida, composta por três atletas, mesmo quando atacada. O ala só aparece em uma foto, e mesmo assim à frente da linha defensiva, compondo a zona do meio de campo.



            
         Para efeito de comparação, observem essas duas imagens do comportamento defensivo do Tottenham, uma equipe inglesa que utiliza o sistema tradicional do país, com quatro atletas em sua linha defensiva. Reparem como nesse caso a postura da equipe é mais conservadora se comparada à da seleção chilena.

          Se isso ocorre, por quê é tão comum no Brasil dizer que o sistema com três zagueiros é mais defensiva que aquele com quatro? Vejam aqui na seqüência de imagens a postura defensiva do Bragantino (equipe que aposta na solidez defensiva e no contra-ataque/transição rápida) contra o trio de ferro paulista em 2012. Na mídia a escalação é sempre anunciada no 3-5-2, mas reparem como os laterais voltam e compõem a linha defensiva, atuando ao lado dos zagueiros. Podemos dizer que o sistema na verdade está mais para 5-3-2, o que explicaria a associação do uso de “três” (na verdade cinco) defensores ao esquema defensivo.


           Vale ressaltar que, independentemente dos números e das terminologias utilizadas, o que realmente faz uma equipe ser mais ofensiva ou defensiva são as situações de jogo, as característica do adversário e, principalmente, a postura da equipe em campo.
           
PS: Por uma questão de terminologia, para facilitar a identificação das funções e do posicionamento, considerei o jogador que atua pelo lado e compõe a linha defensiva como “lateral” e o que atua pelo lado e compõe a linha do meio de campo como “ala”.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Aproximações, é tão complicado?

           Para estrear o blog resolvi abordar o tema aproximações. O conceito é básico: quando um atleta tem a bola, seus companheiros de equipe se aproximam, oferecendo uma opção de passe. Se isso for sempre bem executado, o time se beneficia com a manutenção da posse de bola. Simples, certo? Nem tanto.
            O maior modelo que temos hoje é o Barcelona. Eles jogam um futebol “de outro planeta”, com muitos passes, aproximações, trocas de posiçõs e paciência com a bola. O tal do “tiki taka”. Para entender melhor, uma seqüência de imagens abaixo que ilustra um pouco do que eles fazem: quase sempre o indivíduo que tem a bola tem duas opções imediatas de passe, formando assim um triângulo. Reparem como as opções são oferecidas em qualquer parte do campo e como, mesmo pressionados, eles se apresentam pro jogo e continuam trocando passes curtos, sem rifar a bola.






        Agora, reparem nessa seqüência de imagens a dificuldade que os times brasileiros têm de realizar aproximações. Eles apostam no jogo mais verticalizado, em direção ao gol.

Cortez isolado com a bola: Casemiro recuando pra fazer a cobertura e os outros dois circulados indo em direção a área: a única opção do Cortez é partir para a jogada individual e tentar o cruzamento: deu errado. 


Luan totalmente sozinho após uma inversão de jogo. A única opção era partir para a jogada individual. Deu errado.

Juninho com a bola pela esquerda: companheiros distantes e escondidos atrás da marcação.

Neymar marcado por dois e companheiros escondidos atrás da marcação. Perdeu a bola.

                Aí fica a pergunta: é tão difícil assim aplicar esses conceitos nos times?
            Para que essas aproximações sejam sempre bem realizadas, é necessário que os atletas tenham leitura de jogo e saibam a cada momento onde se posicionar a para onde correr. Para isso, eles precisam estar sempre concentrados e prestando atenção no que acontece ao seu redor (movimentação da bola, dos companheiros, dos adversários) e localizar espaços vazios.
É muito mais fácil para o técnico ter jogadores obedientes taticamente que fazem o que ele determina que criar jogadores inteligentes que saibam pensar o jogo. Isso começa nas categorias de base e passa pelo profissional. Enquanto tivermos essa produção em série de jogadores fortes e rápidos, porém sem leitura tática, será difícil aplicarmos esse conceito e a busca incessante por um “camisa 10 clássico” continuará a fio por anos.
E aí? Que tal incentivarmos os jogadores a pensar?