O blog Conceitos Táticos, como o próprio nome entrega, visa abordar os conceitos táticos no mundo do futebol. Meu objetivo é analisar, provocar, fazer pensar, discutir e tirar dúvidas sobre o assunto. Estou sempre aberto a opiniões, sugestões, críticas, perguntas, discordâncias e etc.

sábado, 5 de maio de 2012

Jogar Sem Centroavante

            Praticamente todas as equipes do mundo hoje jogam com um centroavante, aquele homem de referência que fica posicionado perto do gol e tem como função principal (quando não única) empurrar a bola para as redes. O seu posicionamento mais fixo e a pouca mobilidade pelo campo, porém, muitas vezes faz do centroavante uma referência para os zagueiros, tornando-o fácil de ser marcado, e as jogadas previsíveis.
            Uma idéia interessante, porém pouquíssimo utilizada seria escalar um time sem o tal do 9. Os atletas poderiam, mais de um da equipe, projetar-se para o meio da área dependendo da dinâmica do jogo. Isso torna o time mais imprevisível e difícil de ser marcado. Porém, para que isso seja possível, é necessário entrosamento, entendimento da proposta e leitura de jogo por parte dos atletas. E é aí que entro na mesma tecla que sempre bato: é fundamental, para que tal estratégia seja eficaz, que os atletas consigam pensar o jogo e perceber as situações, a fim de ocupar os espaços vazios e se projetar no lugar certo no momento ideal.
            Para exemplificar o dito acima, algumas imagens de jogos de duas equipes que são talvez as mais dinâmicas do futebol hoje: o Barcelona e o Manchester City. 
             No caso do Barcelona, Messi atua como “falso 9”: teoricamente o centroavante do time, porém ele costuma abrir pelos lados ou recuar para participar do jogo na intermediária abrindo espaço para infiltrações (ás vezes dele mesmo) pela diagonal ou pelo meio.

Reparem como não há ninguém na "referência" (círculo amarelo), e a infiltração é feita pela diagonal, aproveitando o espaço nas costas da defesa adversária (em azul).

Nesse caso, Messi se projeta para o meio da área como um autêntico centroavante, atraindo a marcação e abrindo espaço nas suas costas para a chegada do meia (espaço em amarelo).

Em muitos momentos da partida, Messi (círculo amarelo) recua, abrindo espaço para a infiltração dos meias (no caso, Fábregas- círculo azul)

Novamente não há nenhum jogador na referência. Enquanto os dois zagueiros centrais não marcam ninguém, Messi (círculo amarelo) se projeta diagonalmente a partir da ponta esquerda pelas costas dos zagueiros centrais.

Quinta situação diferente no mesmo jogo: Messi carrega a bola a partir da intermediária como um meia (amarelo), três zagueiros ocupando uma zona sem atacantes (círculo amarelo maior) e dois atletas (no caso, Daniel Alves e Thiago) se comportam como atacantes pelas laterais se projetando diagonalmente.

            No caso do Manchester City, muitas vezes Roberto Mancini utiliza-se de dois atacantes, porém sem a divisão tradicional entre segundo atacante e centroavante. Ambos executam as duas funções, tudo de acordo com as situações do jogo.
Nessa figura, o posicionamento dos dois atacantes do Manchester City, aproximadamente na mesma distância do centro do gol. Reparem que a jogada transcorre pela esquerda e o que acontece na sequência.

Na continuação da jogada: Balotelli (círculo azul) recua, abrindo espaço para a infiltração em diagonal de Aguero e também dando opção de passe para trás.

Nessa jogada, Balotelli (círculo amarelo) e Aguero (círculo azul) estavam em lados invertidos em relação à vista acima. Reparem como Balotelli  se projeta no espaço vazio para receber a bola na região normalmente ocupada pelo centroavante, enquanto Aguero mantém-se no seu lado.

Na sequência da jogada há uma inversão de funções: Balotelli recua, criando espaço para a infiltração diagonal de Aguero, que agora se comporta como centroavante.


            Como sempre, vale ressaltar que as propostas feitas aqui não são regras, nem soluções de todos os problemas. O próprio Barcelona sentiu falta na eliminação da UCL de um centroavante que fizesse parede para as infiltrações ou disputasse bolas pelo alto, já que os passes e ultrapassagens não estavam sendo efetivos para furar a retranca imposta pelo Chelsea.
            A idéia principal da proposta é mostrar como uma equipe não precisa virar refém do centroavante, sendo possível trabalhar alternativas que podem ser altamente efetivas. Acredito, inclusive, que quanto maior a dinâmica da equipe, se bem trabalhada e bem assimilada, traz como principal benefício o fator surpresa, dificultando as ações do sistema defensivo adversário.

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