Ao soltar a convocação final da
seleção brasileira, o técnico Jorge Barcellos afirmou que a preparação havia
sido muito boa e que ganhar uma medalha estava nos planos da equipe. Realmente,
uma seleção que tem tempo de preparação e que conta com talentos como Marta,
Cristiane, Maurine, Formiga e Thais Guedes tem mais que sonhar com a medalha
mesmo.
Nas
duas primeiras partidas, a seleção foi escalada no 3-5-2, com Renata Costa
recuada fazendo a sobra na defesa e dando liberdade para Fabiana e Maurine,
duas alas de recursos ofensivos. O meio de campo contava com três jogadoras
“trabalhadoras”, e as jogadas eram construídas sempre na transição rápida, ou
com as alas ou com as atacantes (duas das melhores jogadoras do mundo), em lançamentos
da defesa ou passes em profundidade da Formiga. A bola não ficava no meio de
campo, não havia viradas de jogo, valorização da posse de bola... muito pouco
para um time com o plantel que tem.
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Brasil no 3-5-2: meio de campo "trabalhador" e dependência das jogadas verticais das alas ou atacantes. |
O terceiro jogo é difícil de
analisar devido ao fato de algumas jogadoras terem sido poupadas.
Na
partida contra o Japão, Jorge Barcellos mudou o esquema: com Rosana no lugar de
Maurine (lesionada) e Thais Guedes no lugar de Ester, passou a jogar no 4-3-3,
e a Renata Costa passou a atuar no meio de campo. Na teoria, esse esquema daria
maior mobilidade e maior liberdade para as atacantes circularem pelo ataque e
recuar pelo meio, valorizando assim a troca de passes e a posse de bola. Porém,
excetuando-se uma ou duas tabelas isoladas, não foi o que se viu. O Brasil
continuou travado, sem idéias e sem aproximações.
Pior: sem sobra fixa, o sistema defensivo se
viu inseguro e refém das transições ofensivas rápidas da equipe japonesa, como
pôde ser visto nos dois gols sofridos: no primeiro Bruna não acompanha a adversária,
que fica livre na cara do gol; e no segundo Érika fica no “mana-a-mana” com a
adversária, que limpa e finaliza.
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O Brasil no 4-3-3: na teoria maior liberdade e mobilidade. Na prática pouquíssimos ganhos ofensivos e insegurança defensiva. |
Analisando a campanha da seleção, podemos apontar alguns problemas que foram
encontrados:
-Falta de
aproximação para tabelas, principalmente na zona de intermediária ofensiva, o
que, além de limitar a posse de bola, leva o time a forçar muitas vezes a
jogada com passes em profundidade ou cruzamentos na área em momentos não
oportunos para isso.
-O Brasil teve
nove escanteios a favor no primeiro tempo contra o Japão e nenhum nem sequer
levou perigo de gol! Nos dois gols que haviam sido feito em jogada de bola
parada na competição a goleira adversária falhou. Faltou maior efetividade. A
cobradora levantar o braço e abaixar na hora da cobrança, sinceramente, não
resolve nada. Precisa de mais que isso.
-Em muitos
momentos as jogadoras “partiam para o individual” na ânsia de resolver o jogo.
Não havia idéias e alternativas coletivas para reverter o placar desfavorável.
Prova disso é que Barcellos fez sua primeira substituição faltando 10 minutos
para acabar o jogo. Concordo que Maurine fez falta, mas faltou um banco mais
confiável e em condições de trazer coisas novas para o campo.
-A defesa
passou uma sensação de insegurança sem Renata Costa na sobra fixa. Ou essa
situação foi pouco treinada antes da competição ou foi treinada e Barcellos já
sabia dos riscos.
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Jorge Barcellos comanda treino da seleção antes dos jogos. Bastante tempo de preparação e talentos individuais não foram suficientes para evitar a pior campanha do futebol feminino nos JOs. |
De modo geral, para uma seleção que se dizia bem
preparada não foi uma boa atuação coletiva. Uma preparação bem feita (como anunciado)
teria amenizado muito dos erros aqui apontados. E isso acabou estourando no
desempenho individual das atletas. Sim, Marta esteve apagada e não
desequilibrou em nenhum momento, mas, como eu já disse em um post anterior ao
me referir ao Cristiano Ronaldo, a equipe deve dar condições para que sua
estrela brilhe, e não jogar na esperança de que isso ocorra. O craque precisa
do time assim como o time precisa do craque
gostei da postagem!
ResponderExcluirimpressionante como uma seleção com tantas boas jogadoras não consegue render!!!
pelo que fiquei sabendo, durante a fase de preparação da seleção o Jorge Barcelos tentou implementar um sistema de jogo diferente, o 4-2-3-1, buscando maior aproximação das atletas, mas não deu certo...
e não ter dado certo pode ter alguns motivos:
- desde sempre, a maioria dos clubes brasileiros jogam com o 3-5-2 com sobra fixa longa e alas ofensivas.. as atletas são formadas com essa concepção de jogo!
- sabemos que se não for bem treinado, o 3-5-2 acaba deixando um espaço muito grande entre os setores, prejudicando as dobras de marcação e a aproximação pra linhas de passe curto, dominando assim as jogadas individuais nesses espaços vagos!
talvez por já ser algo consolidado, as próprias atletas se sintam melhor nesse sistema..
o problema que em um nível internacional como uma Copa do Mundo, Jogos Olímpicos, elas não encontraram os espaços que sempre encontraram, suas ações individuais sempre serão bem marcadas, bem dobradas...
sinceramente, acho que essa lacuna na formação das atletas tem prejudicado diretamente no desempenho recente da seleção...
vejo duas soluções,
a curto prazo, aumento o tempo de preparação da Seleção para assim conseguir implementar um novo Sistema de Jogo de forma efetiva e bem organizada;
e a longo prazo, uma mudança de mentalidade nos times brasileiros de futebol feminino, aumentando o nível de competitividade e priorizando a formação completa da atleta!
abraço,
Rodrigo Coelho
Valeu pelo comentário, Coelho! Legal ver que minha análise é corroborada por alguém que acompanhou de perto o trabalho no futebol feminino. Queria saber se no local que você acompanhou esse trabalho havia a tentativa de mudar essa concepção das atletas, mudando o sistema tático ou se a comissão técnica se viu refém do fato de as meninas se sentirem a vontade com sobra fixa.
ExcluirAbraços
fala Iabas!
ResponderExcluirentão, vivenciei coisas bem distintas no local onde trabalhava...
lá tínhamos categoria de base, sub-13, -15 e -17, e nas duas categorias mais baixas sempre foi incentivado a rotatividade de atletas nas diferentes posições, sem mesmo ter um sistema de jogo único e inflexível..
já no sub-17, a ideia era começar a introduzir o modelo de jogo da equipe principal, que na época era jogar num 4-3-3, com pressão sustentada no campo ofensivo e outras particularidades.
porém, algo ruim que aconteceu nesse último ano é que a equipe acabou por ter pouco tempo de treinamento e preparação para a Copa do Brasil, não sendo possível implementar o modelo de jogo de forma eficiente...
o treinador acabou por optar em instituir o 3-5-2, já que era o sistema de jogo mais conhecido e automatizado das atletas!
deu certo, em partes, já que a equipe chegou às finais da competição mas acabou perdendo e ficando com o vice-campeonato...
abraço!