Em uma competição sem grandes
zebras, chegaram mais longe as seleções que se propuseram a jogar bola. O
presente texto vai abordar de forma breve o estilo de jogo de cada uma das
quatro primeiras colocadas, procurando entender o que as levou a obter o êxito.
A seleção
espanhola confirmou seu favoritismo e conquistou o título pela segunda vez
consecutiva (com uma Copa do Mundo entre elas). Vicente del Bosque apostou em
uma equipe sem centroavante de ofício, escalando Fábregas como “falso 9” na maioria das partidas.
Sem uma
referência na frente, a equipe troca passes em busca de espaços e infiltrações
pela diagonal de qualquer atleta da equipe, surpreendendo assim a equipe
adversária. Jordi Alba foi um dos destaques da equipe executando o papel que
Dani Alves executa no Barcelona, porém pela esquerda: ultrapassagem em
velocidade pela lateral, “quebrando” o ritmo dos passes.
Na imagem
abaixo é possível ver uma inversão de papel entre Fábregas e David Silva no
lance que originou o primeiro gol da final (o que ocorreu diversas vezes
durante a competição): Fábregas abre na direita e faz uma infiltração entre o
lateral e o zagueiro para receber o passe em profundidade, enquanto David Silva
atua na referência. Esse mecanismo foi discutido no post “Jogar sem
Centroavante”.
Com a vantagem
no placar, normalmente Vicente del Bosque colocava Fernando Torres e Pedro em
campo, dois jogadores mais agudos, que jogam de maneira mais vertical, em
direção ao gol. Com isso, ele se propunha a aproveitar os espaços deixados pela
equipe adversária (que buscava o empate) em transições ofensivas rápidas ou
contra-ataques, com o intuito de matar o jogo.
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Troca de funções: Fábregas (círculo amarelo). o "centroavante" do time abre e faz a infiltração diagonal, enquanto David Silva, meia, fica na referência e abre o placar na final contra a Itália. |
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Um dos destaques da Espanha na Eurocopa: Jordi Alba realizando ultrapassagens em velocidade, "quebrando" o ritmo da equipe e gerando situações de gol (na imagem: o segundo gol contra a Itália na final). |
Segunda
colocada, a seleção italiana superou os escândalos políticos, os problemas de
Balotelli, a desconfiança de torcedores e imprensa e o pouco tempo de trabalho
de Cesar Prandelli e conseguiu mostrar um bom futebol (sem a tão rotulada
retranca).
Nos dois
primeiros jogos, a Italia atuou no 3-5-2, com De Rossi atuando como zagueiro. Á
partir da terceira partida, De Rossi voltou pra sua posição original (meio de
campo), formando um 4-4-2 com o meio em losango: Pirlo ficava na base, De Rossi
e Marchisio nos lados e Montolivo no vértice mais avançado.
Assim como no
Juventus campeão italiano desse ano, Pirlo atuava na base nas ações defensivas
e qualificando a saída de bola, e avançava à frente dos ouros meias nas ações
ofensivas, ações que foram discutidas aqui no post “Uma Maneira Diferente de
Ordenar os Volantes”.
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Pirlo atuando na base na marcação e na sáida de bola e participando ativamente das ações ofensivas (mecanismo discutido no post "Uma Maneira Diferente de Ordenar os Volantes"). |
Dentre as
quatro primeiras colocadas, Portugal era a única que tinha uma postura tática
mais fixa, apostando no jogo mais verticalizado e menos em posse de bola.
Diferentemente de muitos times que jogam esperando o craque fazer a diferença,
Portugal jogava para que o craque fizesse a diferença. Nani compunha o meio
pela direita, em balanço defensivo que permitia a Cristiano Ronaldo não se
preocupar muito com a marcação. Com a bola, as jogadas eram verticais e
normalmente pelos lados do campo. Ora com Coentrão e Ronaldo pela esquerda e, principalmente,
com Nani, João Moutinho e João Pereira pela direita, buscando o passe em
diagonal para a infiltração de Ronaldo. Grande parte das jogadas perigosas de
Portugal saíram dessa maneira (como pode ser visto na imagem abaixo).
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Principal jogada de Portugal: situação de ataque armada pelo lado direito e passe para infiltração diagonal de Cristiano Ronaldo pelo lado oposto. |
A Alemanha foi
eliminada nas semifinais, mas foi a seleção que apresentou o futebol que mais
empolgou público e imprensa (seu pior jogo foi justamente o da semi). Com um
futebol envolvente, valorização da posse de bola e postura bastante ofensiva em
campo, condições que só são conseguidas com eficiência se a organização e a
filosofia estiverem bem assimiladas por toda a equipe.
O maior
triunfo da equipe é ao mesmo tempo seu maior risco: uma equipe em que todos
jogam. Tanto Sschweinsteiger quanto Khedira, os dois volantes, saem para o jogo
(como pode ser visto na imagem abaixo). Não há um primeiro volante marcador,
pronto para fazer coberturas e matar contra-ataques.
Ao mesmo tempo
que envolve e sufoca, deixa espaços para contra-ataques, transições ofensivas e
bolas longas. Para que esse risco seja diminuído, é necessário que os zagueiros
estejam sempre atentos e não hesitem (o que foi visível no segundo gol da
Itália: bola longa para Balotelli, Lahm tentou fazer linha de impedimento, mas
demorou, deixando Balotelli em condição legal e sozinho).
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Khedira (amarelo) e Schweinsteiger (azul): os dois volantes da Alemanha participam efetivamente das ações ofensivas. Reparem como há sete jogadores alemães ocupando o último quarto do campo. |
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O risco que a Alemanha corre: bola longa nas costas da defesa. A indecisão de Lahm permitiu que Balotelli ficasse livre e em condição legal para marcar o segundo gol na semi. |
O balanço
final é: o futebol agradece. É possível chegar longe com futebol jogado,
mobilidade, trocas de posições e trocas de passe. Muito do que foi observado já
tinha sido abordado nesse espaço. A única das que chegaram longe e tem uma
proposta diferente é Portugal, mas isso se deve ás características de seus
jogadores (principalmente do seu craque- com a ressalva importantíssima que é
válido jogar para que o craque brilhe, e não esperando que seu craque brilhe).
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