A seleção de 1970 é exaltada por
muitos como a melhor seleção que o Brasil já teve. Realmente, contava com nomes
como Pelé, Tostão, Rivellino, Gerson e outros, encaixados e bem treinados. O
interessante é que essa é daquelas “verdades absolutas” repetidas por gente mais
nova que nunca viu mais que dois ou três lances daquela Copa e de gente mais
velha que tem apenas esses alguns lances na memória. Estimulado por um post do
André Rocha (colunista da ESPN), fui atrás de analisar a forma de jogar dessa
seleção e constatei: há muitas semelhanças com o que Mano Menezes tem tentado
aplicar na seleção atual.
Aquela
seleção contava com três excelentes pontas-de-lança, e para encaixá-los Zagallo
fez algumas adaptações: Rivellino foi jogar de ponta esquerda e Tostão ficou no
que vou chamar de referência móvel.
Este
era apenas o desenho tático inicial, já que a grande movimentação e troca de
posições entre os atletas tornava a equipe extremamente dinâmica e
imprevisível. Tostão muitas vezes abria pela esquerda ou recuava para armar a
jogada, abrindo espaço para as infiltrações de Pelé, Jairzinho e às vezes de
Rivellino e até Carlos Alberto Torres e Clodoaldo. Aliada à intensa
movimentação e infiltrações, uma arma muito efetiva eram os lançamentos de
Gerson (arma que não é utilizada na seleção atual, cuja dupla de volantes é
composta por carregadores de bola, que têm o costume de aparecer no ataque, mas
não de realizar lançamentos).
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Na formação inicial: Tostão na referência fazendo o pivô para Rivellino na esquerda. |
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Tostão abrindo para a esquerda, gerando espaço para a infiltração do volante Clodoaldo. |
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Tostão recuando, abrindo espaço para a infiltração de Jairzinho. |
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Jairzinho (7), o ponta-direita, por vezes abria pela esquerda, abrindo um buraco no lado oposto. Detalhe: este lance é contra o Uruguai, mostrando como a movimentação não foi exclusiva e por acaso no gol do Carlos Alberto Torres contra a Itália. |
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Arma mortal, que a seleção atual não conta: os lançamentos de Gerson. |
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Jairzinho se projetava no meio da área como autêntico centroavante. Não é a toa que ele foi o artilheiro da Copa, tendo feito gols em todos os jogos. |
Há pouco tempo realizei um post
aqui no blog analisando as variações táticas experimentadas pelo Mano. Em todas
elas, ele contava com um autêntico centroavante. Nos últimos amistosos, com a
entrada de Kaka no lugar de Leandro Damião, Mano mudou a forma de jogar da
equipe, deixando Hulk, Oscar e Kaka como trio de meias atrás de Neymar, que
fazia a referência móvel.
De
maneira muito semelhante à de Tostão em 70, Neymar é a referência, mas não fica
centralizado. Abre pelos lados (principalmente pela esquerda) ou recua, abrindo
espaços para a ultrapassagem dos meias e dos volantes.
A
grande diferença, como dito acima, é a característica da dupla de volantes. Se
Clodoaldo de certa forma se assemelha aos dois atuais, Gerson tinha uma forma
de jogar bem diferente, cadenciando mais o jogo e realizando passes e
lançamentos primorosos.
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Momento de marcação da seleção brasileira atual: praticamente um 4-2-4. |
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Neymar recuando para armar a jogada e abrir espaço para a infiltração dos meias. |
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Neymar abrindo pela esquerda para armar a jogada, abrindo espaço para a infiltração dos meias. Compare essas duas últimas fotos com a movimentação do Tostão. Mera coincidência? |
Não sei dizer se Mano Menezes
estudou a seleção de 1970 e realmente se inspirou nela, mas as semelhanças
estão aí. Talvez o caminho seja um pouco mais longo: Mano já afirmou se
inspirar em Pep
Guardiola, que disse ter aprendido muito com as seleções
brasileiras de 1970 e dos anos 80.
Boa Pedro, queria saber se havia alguma diferença entre aquela seleção e essa, no sistema como um todo e se sem a bola o comportamento seria o mesmo. Ou será que esse tipo de análise vale um outro post?
ResponderExcluirAbraços
Fernando (Bocão)
Então, os amistosos com o Kaka e sem primeiro volante foram contra seleções mais fracas. Precisamos esperar para ver o que Mano pensa em fazer contra as seleções mais fortes. Mas nesses jogos, o Brasil ensaiou uma pressão média-alta (como a da figura) para alta, enquanto a seleção de 70 recuava todas as linhas atrás do meio de campo, muitas vezes deixando apenas Tostão no campo ofensivo. A grande semelhança é a aposta na transição rápida, justamente com a referência móvel abrindo espaços para a infiltração/ultrapassagem (sempre em velocidade) de quem vem de trás.
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