“Quero que olhem os
jogadores com os olhos do São Paulo, dentro do Padrão São Paulo. Recebo mil
telefonemas dizendo “tenho um volante sensacional, com 1,94m”. Pô, estou
trabalhando com futebol, não com basquete, e a primeira coisa que dizem é que o
cara é forte e alto à beça. E daí? O meu interesse é: tem talento? Para
observar o jogador, preciso saber: Tem talento? Tem leitura de jogo?
Mobilidade? É um cara que sabe jogar no coletivo ou vai dar trabalho porque é
muito individual?”
Esse é um trecho de uma entrevista do
René Simões para a Gazeta Esportiva quando assumiu as categorias de base do São
Paulo, e expressava uma preocupação sobre o que acontece em quase todos os
clubes na hora de formar e selecionar jogadores.
René Simões, ex-diretor de base do São Paulo: preocupação extremamente válida. |
O processo de
crescimento de um indivíduo não segue uma ordem cronologia, mas sim biológica.
A maturação de cada um acontece em um momento. Por isso vemos garoto de 13 anos
com barba, pelo nas axilas e 1,70m e garoto de 13 anos ainda com cara de
criança e 1,50m. Essa maturação precoce ou tardia influencia no desempenho de
cada garoto no esporte, já que as categorias são divididas por idade, assim, o
primeiro exemplo leva ampla vantagem sobre o segundo, principalmente do ponto
de vista físico.
A cobrança por
vitórias e títulos faz com que as categorias de base dos clubes tenham
preferência pelos atletas mais altos e fortes (maturação precoce) no momento de
selecionar jogadores. O resultado em curto prazo é positivo.
A questão
principal aqui é que com o passar dos anos, esses atletas vão perdendo essa
vantagem, já que, mais cedo ou mais tarde, todos chegam à maturidade biológica,
o que iguala a condição física dos jogadores. Não raro vemos jogadores que se
destacam nas categorias de base justamente pela força física e não obtém o
mesmo desempenho no profissional.
Por isso é
fundamental trabalhar com capacidades não só físicas, como também táticas,
cognitivas, técnicas e psicológicas desde a escolha do atleta até sua formação
dentro do clube.
Temos como
exemplos opostos o Palmeiras, que apesar de conquistar dezenas de títulos nas
categorias de base tem uma grande dificuldade em formar jogadores que sejam
aproveitados na equipe de cima, e a geração do Barcelona, que cresceu dentro de
uma filosofia de trabalho que aborda todas as gamas acima citadas e conquistaram
coisas grandiosas apesar da baixa estatura média do time.
Pequenos, porém talentosos: qualidade técnica e inteligência de jogo superaram forças físicas. |
Não devemos
aqui subestimar o valor de um título. Ele é fundamental e devemos sempre
buscá-lo. O ponto aqui é discutir a forma como isso pode ser feito. Devemos
lembrar que nas categorias de base estamos formando o jogador. Por vezes é
válido percorrer um caminho um pouco mais longo, desde que isso signifique um
trabalho melhor feito em cima de cada atleta no sentido de prepará-lo para o
futebol profissional e para a vida adulta de forma geral.