Dentre as grandes equipes
européias, quase não vejo casos da utilização no time considerado titular de um
volante que tem como funções únicas a marcação e a cobertura defensiva. Algumas
equipes contam com uma dupla de volantes que têm iguais responsabilidades
defensivas e ofensivas (como por exemplo o Real Madrid e a seleção alemã, como
destacado acima), e outras contam com um primeiro volante com qualidade no
passe e certa liberdade para chegar à frente (como por exemplo Sergio Busquets
no Barcelona e na seleção espanhola).
Aqui
no Brasil já é mais comum a escalação de um primeiro volante que tem
basicamente apenas funções defensivas, e isso se deve principalmente ao
comportamento dos laterais: enquanto na Europa os laterais ocupam quase o tempo
inteiro a linha de defesa, raramente subindo para o campo ofensivo, no Brasil
temos tradicionalmente laterais fortes no apoio, o que naturalmente deixa mais
espaços no setor defensivo. Para compensar esse espaço deixado por laterais, os
treinadores brasileiros optam por escalar um volante exclusivamente marcador,
que tem como função principal realizar a cobertura desses laterais.
Apesar
dessa tradição, porém, cada vez mais equipes brasileiras também contam com
volantes capacitados nas ações ofensivas. Das quatro equipes paulistas, apenas
o Santos conta hoje com um volante mais marcador (Adriano), mas vale lembrar
que o Santos campeão da Libertadores contou com Henrique na equipe titular. Com
o excessivo número de lesões e algumas mudanças na equipe, não dá para saber
se, com o time completo, Muricy ainda manteria Henrique como primeiro volante.
Apesar de ser zagueiro, Henrique tem boa atuação no aspecto ofensivo no
Palmeiras. Ralf, no Corinthians e Denílson, no São Paulo, têm bom passe e participam
ativamente das ações ofensivas de suas equipes.
Das
três equipes melhores colocadas no campeonato brasileiro atualmente, duas usam
um primeiro volante exclusivamente marcador (Edinho no Fluminense e Pierre no
Atlético-MG), mas isso se deve principalmente, como dito acima à grande vocação
ofensiva de seus laterais. Já o Grêmio conta com um primeiro volante com
grandes qualidades tanto defensivas quanto ofensivas, o jovem Fernando, que
joga como veterano.
Fernando, Denílson, Henrique e Ralf: exemplos de primeiros volantes que participam com qualidade das ações ofensivas de suas equipes. |
A opção por escalar um volante
exclusivamente para funções defensivas é simplista: é mais fácil colocar alguém
que faça essa cobertura que cobrar dos atletas (tantos laterais quanto
volantes) consciência tática, leitura e percepção de ocupação de espaços
(quando subir, quando voltar, aonde ir). As equipes brasileiras poderiam
aproveitar tanto o poderio ofensivo de seus laterais quanto a qualidade técnica
de seus volantes, a fim de ter em campo um maior número de jogadores
tecnicamente qualificados. Tendo inserido neles a leitura de jogo e a percepção
de que a participação ativa de todos tanto do ponto de vista ofensivo quanto do
defensivo torna-se possível colocar os melhores em campo.