Quem vive um pouco no mundo do
esporte não precisa ser grande fã de basquete para ao menos ter ouvido falar do
Chicago Bulls do Michael Jordan ou do L.A Lakers do Kobe Bryant e Shaquille
O´Neal. Em comum entre essas equipes o treinador: Phill Jackson. Muitos dizem
que é fácil ser campeão tendo os atletas que tinha em mãos, porém Jackson teve
o mérito de implementar um conceito de jogo que potencializa as virtudes de
seus atletas: o Sistema de Triângulos (ST).
Phill Jackson com Kobe Bryant e com Michael Jordan: grande sucesso na utilização do Sistema de Triângulos |
A abordagem do presente texto irá
focar nos parâmetros conceituais que geram o ST, deixando de lado sua aplicação
mais prática, pois além de ser mais complexa é até certo ponto específica do
basquete e necessita de algumas adaptações para ser utilizada no futebol.
O
ST se baseia em alguns princípios, os quais devem ser entendidos e efetuados
por todos os atletas da equipe. São eles:
*Evitar
o drible: o drible excessivo atrasa a equipe e facilita a recomposição do
adversário. O drible pode ser efetuado e deve ser estimulado, desde que seja
com um objetivo bem definido. O ideal é que a equipe toque a bola até encontrar
uma situação de 1x1 sem cobertura, quando o drible torna-se uma arma útil.
*Passar
a bola para o jogador mais livre: na teoria parece simples, porém na prática
isso depende da participação de todos os atletas em campo. A equipe não
procura a todo momento o craque do time, nem exclui nenhum jogador de suas
ações ofensivas. Isso obriga a defesa adversária a segmentar sua atenção a
todos os atacantes, dificultando assim as dobras de marcação e as coberturas.
*Ao
receber, olhar para o gol: sempre que o atleta tem a bola, ele deve representar
uma ameaça ao adversário, então deve estar sempre de frente ao gol. Quando
recebe a bola de costas ou de lado para o gol, o atleta representa menos perigo,
facilitando assim a marcação do adversário.
*Jogar
sem bola: fundamental para o sucesso do ST: o atleta que tem a bola deve ter o
maior número de opções de jogadas, para assim tomar a melhor decisão e também
dificultar a marcação adversária. Para que isso seja possível, todos os atletas
sem bola devem se movimentar e se posicionar em condições de receber a bola,
dando opções e também abrindo espaços. É importante que o espaço entre os
jogadores mais ofensivos seja relativamente grande, o que aumenta a área
operacional para o jogador que tem a bola (permite infiltrações e
aproveitamento de espaços vazios).
*Ler
a defesa e jogar com ela: detalhe importante para o jogar com ela ao invés de
contra ela, ou seja, os atacantes devem usar as ações defensivas realizadas
pelo adversário como uma arma para suas próprias ações. Por exemplo: se o
marcador mais alto está marcando o centroavante e pronto para cortar
cruzamentos, o centroavante pode sair da área para receber a bola ou abrir
espaço para a infiltração de outro atacante. Qualquer que seja a ação, os
atletas devem estar atentos às ações e movimentações não só de seus
companheiros como também de seus adversários, podendo com isso escolher a ação
que melhor funciona contra aquele adversário naquele momento.
*Criatividade
e intuição: dei-me a liberdade de colocar este princípio em último, pois ao meu
entender, ele engloba de certa forma todos os outros citados anteriormente.
Reparem que nenhum princípio propõe ações pré-determinadas; muito pelo
contrário, sugere que todos os atletas da equipe estejam sempre atentos ao que
acontece ao seu redor (companheiros, adversários, bola, espaços) para,
utilizando-se da criatividade e da intuição, tomar a melhor decisão.
Importantíssimo diferenciar criatividade e intuição de improviso (“jeitinho”).
O objetivo maior é estruturar e potencializar a utilização da criatividade do
atleta em prol do time, sem prendê-lo demais e também sem deixá-lo fazer o que
bem entender.
Para
que a execução do ST seja bem-feita, é necessária a participação efetiva de
todos os atletas em campo, ou seja, todos devem entender os princípios que
norteiam o ST e estarem dispostos a sacrificar o individual pelo coletivo, além
de ter pleno domínio dos fundamentos técnicos.
O
ST é chamado também de ataque dos três pivôs, pois a idéia é que todos os
atletas componentes do triângulo ofensivo passem em algum momento pela posição
do pivô (troca constante de posição, variabilidade de opções e ações ofensivas).
O
grande problema do ST é que, por ser algo diferente, enfrentaria grande
resistência por parte dos atletas e de dirigentes despreparados, mais
preocupados com resultados imediatos que com o desenvolvimento a longo prazo.
Cabe ao treinador convencer sobre a efetividade dessa metodologia, e cabe
principalmente aos clubes profissionalizar sua gestão. Infelizmente estamos
léguas atrás de europeus e até mesmo de alguns “hermanos” do ponto de vista da
gestão dos clubes.
Gostaria
de agradecer ao Prof. Dr. Alexandre Moreira (professor de Basquete na Escola de
Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo) por gentilmente me
fornecer o material base deste post.
Fonte: Marcel de Souza (técnico
de Basquete)- Comentários Sobre o Sistema de Triângulos.